No atual cenário econômico brasileiro, a imprevisibilidade das variáveis políticas e mercadológicas exige uma postura proativa. Empresas de diferentes portes já enfrentaram desde flutuações abruptas na taxa de câmbio até mudanças repentinas na regulação tributária. Nessa realidade dinâmica, desenvolver resiliência frente a crises não é mais uma opção, mas uma urgência estratégica. Este artigo oferece um guia completo para gestores que buscam transformar vulnerabilidades em oportunidades de crescimento sustentável.
A 10ª edição do estudo de Gerenciamento de Riscos 2025 da KPMG mapeou 7.275 fatores de risco em 278 empresas abertas brasileiras. Os principais desafios enfrentados pelas organizações incluem:
Esses dados ressaltam a importância de implementar políticas robustas de governança corporativa e de aprimorar continuamente os mecanismos de controle. Uma única falha no monitoramento de caixa pode resultar em desequilíbrios severos, afetando a capacidade de investir em inovação ou honrar compromissos financeiros.
Em 2023, um grande grupo varejista enfrentou perdas significativas ao não considerar cenários alternativos de inflação elevada. A falha em antecipar a alta nos custos de fornecedores provocou atrasos em pagamentos e perda de confiança junto aos investidores. Esse exemplo demonstra que um olhar reativo é insuficiente: é essencial projetar cenários extremos e testar a robustez dos controles institucionais.
O arcabouço regulatório global e nacional estabelece diretrizes fundamentais. As normas de Basileia III impõem requisitos de capital mínimo e padrões de liquidez que disciplinam o balanço patrimonial. Já o IFRS 9 exige o reconhecimento antecipado de perdas esperadas em instrumentos financeiros, ampliando a transparência e a capacidade de resposta em momentos de crise.
No âmbito nacional, as diretrizes do Banco Central aproximam-se de padrões internacionais, reforçando exigências de gestão de riscos de mercado, crédito e liquidez. Organizações que não acompanham essas demandas ficam sujeitas a sanções, além de prejudicar sua reputação junto a acionistas e órgãos reguladores.
Quanto aos frameworks de referência, empresas brasileiras adotam, com sucesso, modelos como COSO ERM, ISO 31000 e o Orange Book do governo britânico. Cada um oferece abordagens específicas para definição de estratégia, avaliação de riscos e comunicação corporativa. A escolha do framework deve considerar a cultura organizacional, o setor de atuação e o porte da empresa.
Um processo padronizado de gestão de riscos permite traduzir teoria em ação eficiente. As cinco etapas centrais são apresentadas a seguir:
No passo de identificação, o objetivo é mapear todos os riscos financeiros — desde exposição cambial até inadimplência de clientes. Workshops interdisciplinares, análise de contratos e estudo de cenários macroeconômicos colaboram para uma visão completa dos riscos.
Na avaliação, utilizam-se métricas como VaR (Valor em Risco), testes de estresse e matrizes de impacto versus probabilidade. Essa análise fornece subsídios para priorizar riscos críticos e alocar recursos de mitigação de forma inteligente.
O desenvolvimento de estratégias envolve opções como evitar riscos, reduzir a exposição com controles internos, transferir riscos via seguros ou derivativos, e até aceitar certos riscos quando o custo de mitigação for desproporcional. Equilibrar essas alternativas exige diálogo direto entre áreas financeiras e de negócios.
Para a implementação de controles, recomenda-se a adoção de sistemas em nuvem que permitam o registro unificado de indicadores e alertas automáticos. Políticas claras, limites de exposição e responsabilidades definidas em manuais de procedimentos fortalecem o dia a dia operacional.
Finalmente, o monitoramento contínuo deve contar com indicadores de risco (KRIs) apresentados regularmente ao conselho e à alta direção. Revisões periódicas, alinhamento com o apetite a risco e ajustes em tempo hábil evitam surpresas e mantêm a organização preparada para adaptações rápidas.
Para que as práticas de gestão de riscos se consolidem, é imprescindível cultivar um ambiente interno que valorize a comunicação transparente e a tomada de decisão informada. A alta direção deve liderar pelo exemplo, definindo um apetite a risco claramente comunicado a todas as áreas.
Programas de treinamento contínuo sensibilizam colaboradores sobre a importância de reportar incidentes e potenciais ameaças. Sistemas de canal de denúncias e feedback constante ampliam a confiança e promovem uma visão compartilhada dos objetivos de proteção financeira.
Além disso, alinhar metas de performance ao cumprimento de indicadores de risco reforça que a busca por resultados financeiros não pode ocorrer à custa da exposição desequilibrada. Reconhecer e recompensar boas práticas alimenta um ciclo virtuoso de melhoria contínua.
O ritmo acelerado da transformação digital introduz novas camadas de complexidade. A Inteligência Artificial promete otimizar modelos preditivos e automatizar análises de crédito, mas também exige frameworks robustos para evitar vieses e garantir transparência nas decisões automatizadas.
No campo ESG, investidores exigem cada vez mais que riscos climáticos e sociais sejam mensurados e reportados. O conselho de administração tem buscado auxílio de auditores internos para interpretar impactos ambientais em números, criando planos de resiliência diante de eventos extremos.
Além disso, as empresas estão estruturando comitês para riscos emergentes, conduzindo stress tests regulares e ajustando limites de exposição a derivativos financeiros e commodities. Essa governança especializada assegura respostas rápidas quando mercados atingem pontos de ruptura inesperados.
Dentre as iniciativas que ganham tração, destacam-se:
O Brasil também dá passos importantes na definição de regulações específicas para o uso ético de IA, harmonizando inovação e segurança. Estar à frente dessas mudanças já não é diferencial – é requisito para a sustentabilidade.
Gerenciar riscos financeiros não pode ser visto como uma atividade pontual, mas sim como um processo vivo, integrado à estratégia corporativa. Empresas que incorporam aprendizado de crises passadas, fortalecem controles e incentivam a cultura de resiliência são aquelas que sobrevivem e prosperam mesmo diante de tempestades.
Por fim, lembre-se: a adoção de estratégia de diversificação de portfólio, a criação e uso de indicadores de risco (KRIs) e uma governança ativa transformam riscos em oportunidades. Ao preparar-se para o inesperado, sua empresa ganha agilidade, credibilidade e, sobretudo, segurança para crescer de forma sustentável.
Referências